Mientras en Chile se demostró que la defensa de los valores de un Sitio inscrito en la Lista del Patrimonio Mundial de Unesco es una tarea permanente que demanda la atención de todos los actores sociales, los que pudieron desmontar la poderosa ascendencia de un gran artista del siglo XX para cautelar la integridad y autenticidad de Valparaíso, nuestro colega de ICOMOS Brasil el arquitecto Henrique Oswaldo nos informa sobre la -nueva- irracionalidad planteada por el lobby de la oficina del arquitecto centenario para estar al día con la cuentas de la historia y de las finanzas.
Reproducimos la Carta Abierta que en estos días circula por distintos medios en Brasil para movilizar la conciencia política sobre la responsabilidad con las generaciones futuras, la que en el caso de Niemeyer ni siquera está teniendo con la suya, a juzgar por la propuesta de intervención que claramente introduce un factor de irreversibilidad en el diseño urbano de su colega y amigo Lucio Costa.
Con amigos asi...
Reproducimos la Carta Abierta que en estos días circula por distintos medios en Brasil para movilizar la conciencia política sobre la responsabilidad con las generaciones futuras, la que en el caso de Niemeyer ni siquera está teniendo con la suya, a juzgar por la propuesta de intervención que claramente introduce un factor de irreversibilidad en el diseño urbano de su colega y amigo Lucio Costa.
Con amigos asi...
Carta Aberta ao Arquiteto Oscar Niemeyer
PREZADO ARQUITETO OSCAR NIEMEYER, sou de uma geração que aprendeu a admirar os brasileiros que sonharam e realizaram o Brasil moderno. Homens como o senhor, que começaram a desenhar um novo Brasil, ancorado nos conceitos modernistas de arte, arquitetura, urbanismo e vida. Minha admiração começou na infância, quando vim morar em Brasília – a cidade que aprimorou meu olhar para a arquitetura leve, livre e clara, projetada na sua prancheta. Cresci percorrendo os espaços generosos concebidos por Lucio Costa. Estudei nas escolas planejadas por Anísio Teixeira. Pude viver a liberdade e os compromissos assinalados no sonho modernista brasileiro, arquitetado por homens como Lúcio Costa, Rodrigo de Melo Franco, Mário de Andrade e o senhor, entre tantos outros que souberam pensar e amar o Brasil.
VI BRASÍLIA pela primeira vez aos 10 anos. De longe, a cidade parecia flutuar. Era agosto de 1962. O clima era seco e o calor dava a impressão de que estávamos entrando no deserto. Achei que estava tendo uma miragem. As longas retas da estrada finalmente nos levaram ao Eixo Monumental. Foi uma entrada triunfal. Aquela avenida ampla e plana parecia não ter fim. Seguimos reto naquele planalto asfaltado e margeado por canteiros de terra seca. Às vezes, aparecia um bloco solitário anunciando que ali haveria uma Superquadra. No fim da linha, estava a Rodoviária, de onde foi possível avistar a surpreendente Esplanada dos Ministérios. Era uma imensidão tão grande, que dava vontade de voar e pousar no topo daquele prédio que tinha o formato da letra “H”. Curioso cenário. Um “H” ladeado por uma cúpula côncava e outra convexa. Tive a sensação de estar em outra dimensão.
MEU PAI foi logo dizendo que poderíamos ver aquele lugar muitas vezes. Mas já era hora de chegarmos na Superquadra onde iríamos morar. Voltamos pelo Eixinho W. Passamos pelo Setor Comercial Sul, onde ele disse que iria montar seu consultório. O prédio escolhido era alto e moderno, e tinha as letras “JK”, escritas em negro, na empena lateral.
Logo em frente estava o Hospital de Base. Ultra-moderno e bem equipado, informou meu pai, orgulhoso de poder mostrar aos filhos a cidade surpreendente que ele havia escolhido para vivermos. Cobertos de curiosidade e surpresa, chegamos na SQS 106. Nosso bloco era em frente à escola onde eu e meu irmão caçula iríamos estudar.
TUDO ERA NOVO. Tudo era mágico. Especialmente para aquelas crianças que haviam nascido e vivido a primeira infância no aconchego das montanhas ao sul das Minas Gerais. Meninos cultivados na estética barroca, nas ruas estreitas, nos casarios sombrios e no sobe e desce dos morros da pequena Lavras. Agora, em Brasília, tudo era plano e claro, amplo e transparente. Os meninos de Lavras descobriram os grandes espaços, a arquitetura leve, as linhas simples dos edifícios, a amplidão do Planalto Central e a liberdade de ser e de viver aprendida na Escola Classe, na Escola Parque, no Caseb, no Ciem e na UnB.
O SONHO MODERNISTA impregnou minha retina, moldou meu espírito e tomou meu coração. Tornei-me uma apaixonada pela liberdade, transparência, leveza e beleza dos grandes espaços livres que nos convidam a uma reflexão mais profunda e mais pura. Aprendi também a cultivar as vastas áreas verdes e a respeitar a importância dos nossos amplos gramados, árvores e flores que nos defendem do sol, das altas temperaturas e da seca do Planalto Central.
ASSIM, SENHOR OSCAR, qual não foi minha surpresa quando, no último sábado, deparei-me com o seu mais novo projeto para Brasília – um calçadão de concreto sobre o gramado da Esplanada, de onde sairá uma escultura triangular de 100 metros de altura. Estupefata, exclamei: roubaram a visão ampla e grandiosa da Esplanada! Como será possível vislumbrar, à distancia, a torre do Congresso e suas duas cúpulas laterais, que encantam tantos quantos, do alto da Rodoviária, puderem olhar aquela escultura espetacular, projetada na amplidão do grande gramado? Além disso, como cobrir de concreto o verde que nos defende da seca e absorve os excessos das águas que chegam com as tempestades?
MEU CARO MESTRE, aprendi a admirar o humanista Oscar e a respeitar o arquiteto Niemeyer. E é com admiração e respeito que venho lhe pedir para interromper o projeto da Praça da Soberania. Afinal, a melhor praça para um povo é feita de jardins, bancos e árvores que lhes defenda do calor dos trópicos e da seca do Planalto Central. Além disso, a superioridade de um povo não está expressa em monumentos, mas em escolas bem planejadas e ensino qualificado.
BRASÍLIA, como está, é uma obra prima. Qualquer outro monumento poderá ser visto como um excesso. Além disso, enquanto o mundo inteiro está buscando soluções para aplacar o aquecimento do planeta e encontrar caminhos ambientalmente renováveis e sustentáveis, não seria correto trocar parte do gramado da Esplanada por concreto armado. Peço perdão pela ousadia. Mas saiba, mestre Oscar, que a maioria dos brasilienses lhe é muito grata pelas maravilhas que senhor fez pelo Brasil e, em especial, por Brasília, e nós seremos mais agradecidos ainda se o senhor nos ajudar a preservar esta cidade surpreendente, desenhada na sua prancheta e na de Lúcio Costa, e que o mundo inteiro reverencia.
Claudia Pereira
Gabinete C
PREZADO ARQUITETO OSCAR NIEMEYER, sou de uma geração que aprendeu a admirar os brasileiros que sonharam e realizaram o Brasil moderno. Homens como o senhor, que começaram a desenhar um novo Brasil, ancorado nos conceitos modernistas de arte, arquitetura, urbanismo e vida. Minha admiração começou na infância, quando vim morar em Brasília – a cidade que aprimorou meu olhar para a arquitetura leve, livre e clara, projetada na sua prancheta. Cresci percorrendo os espaços generosos concebidos por Lucio Costa. Estudei nas escolas planejadas por Anísio Teixeira. Pude viver a liberdade e os compromissos assinalados no sonho modernista brasileiro, arquitetado por homens como Lúcio Costa, Rodrigo de Melo Franco, Mário de Andrade e o senhor, entre tantos outros que souberam pensar e amar o Brasil.
VI BRASÍLIA pela primeira vez aos 10 anos. De longe, a cidade parecia flutuar. Era agosto de 1962. O clima era seco e o calor dava a impressão de que estávamos entrando no deserto. Achei que estava tendo uma miragem. As longas retas da estrada finalmente nos levaram ao Eixo Monumental. Foi uma entrada triunfal. Aquela avenida ampla e plana parecia não ter fim. Seguimos reto naquele planalto asfaltado e margeado por canteiros de terra seca. Às vezes, aparecia um bloco solitário anunciando que ali haveria uma Superquadra. No fim da linha, estava a Rodoviária, de onde foi possível avistar a surpreendente Esplanada dos Ministérios. Era uma imensidão tão grande, que dava vontade de voar e pousar no topo daquele prédio que tinha o formato da letra “H”. Curioso cenário. Um “H” ladeado por uma cúpula côncava e outra convexa. Tive a sensação de estar em outra dimensão.
MEU PAI foi logo dizendo que poderíamos ver aquele lugar muitas vezes. Mas já era hora de chegarmos na Superquadra onde iríamos morar. Voltamos pelo Eixinho W. Passamos pelo Setor Comercial Sul, onde ele disse que iria montar seu consultório. O prédio escolhido era alto e moderno, e tinha as letras “JK”, escritas em negro, na empena lateral.
Logo em frente estava o Hospital de Base. Ultra-moderno e bem equipado, informou meu pai, orgulhoso de poder mostrar aos filhos a cidade surpreendente que ele havia escolhido para vivermos. Cobertos de curiosidade e surpresa, chegamos na SQS 106. Nosso bloco era em frente à escola onde eu e meu irmão caçula iríamos estudar.
TUDO ERA NOVO. Tudo era mágico. Especialmente para aquelas crianças que haviam nascido e vivido a primeira infância no aconchego das montanhas ao sul das Minas Gerais. Meninos cultivados na estética barroca, nas ruas estreitas, nos casarios sombrios e no sobe e desce dos morros da pequena Lavras. Agora, em Brasília, tudo era plano e claro, amplo e transparente. Os meninos de Lavras descobriram os grandes espaços, a arquitetura leve, as linhas simples dos edifícios, a amplidão do Planalto Central e a liberdade de ser e de viver aprendida na Escola Classe, na Escola Parque, no Caseb, no Ciem e na UnB.
O SONHO MODERNISTA impregnou minha retina, moldou meu espírito e tomou meu coração. Tornei-me uma apaixonada pela liberdade, transparência, leveza e beleza dos grandes espaços livres que nos convidam a uma reflexão mais profunda e mais pura. Aprendi também a cultivar as vastas áreas verdes e a respeitar a importância dos nossos amplos gramados, árvores e flores que nos defendem do sol, das altas temperaturas e da seca do Planalto Central.
ASSIM, SENHOR OSCAR, qual não foi minha surpresa quando, no último sábado, deparei-me com o seu mais novo projeto para Brasília – um calçadão de concreto sobre o gramado da Esplanada, de onde sairá uma escultura triangular de 100 metros de altura. Estupefata, exclamei: roubaram a visão ampla e grandiosa da Esplanada! Como será possível vislumbrar, à distancia, a torre do Congresso e suas duas cúpulas laterais, que encantam tantos quantos, do alto da Rodoviária, puderem olhar aquela escultura espetacular, projetada na amplidão do grande gramado? Além disso, como cobrir de concreto o verde que nos defende da seca e absorve os excessos das águas que chegam com as tempestades?
MEU CARO MESTRE, aprendi a admirar o humanista Oscar e a respeitar o arquiteto Niemeyer. E é com admiração e respeito que venho lhe pedir para interromper o projeto da Praça da Soberania. Afinal, a melhor praça para um povo é feita de jardins, bancos e árvores que lhes defenda do calor dos trópicos e da seca do Planalto Central. Além disso, a superioridade de um povo não está expressa em monumentos, mas em escolas bem planejadas e ensino qualificado.
BRASÍLIA, como está, é uma obra prima. Qualquer outro monumento poderá ser visto como um excesso. Além disso, enquanto o mundo inteiro está buscando soluções para aplacar o aquecimento do planeta e encontrar caminhos ambientalmente renováveis e sustentáveis, não seria correto trocar parte do gramado da Esplanada por concreto armado. Peço perdão pela ousadia. Mas saiba, mestre Oscar, que a maioria dos brasilienses lhe é muito grata pelas maravilhas que senhor fez pelo Brasil e, em especial, por Brasília, e nós seremos mais agradecidos ainda se o senhor nos ajudar a preservar esta cidade surpreendente, desenhada na sua prancheta e na de Lúcio Costa, e que o mundo inteiro reverencia.
Claudia Pereira
Gabinete C
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